NASCEU EM AVEIRO UMA FANZINETECA

Data: 20 de Janeiro de 2023

“Dentro de dois meses, ao lado dos livros de Almeida Garrett, Fernando Pessoa ou Júlio Dinis, que enchem as prateleiras da biblioteca da Escola Secundária José Estêvão, vão estar fanzines portugueses. Trata-se da primeira Fanzineteca de Aveiro, que surge ao abrigo de um protocolo de colaboração assinado ontem, entre a direção do agrupamento de escolas e Miguel Correia, designer gráfico (art director), na Agência de Comunicação Gula Visual, editor e colecionador de fanzines.

Foi ele que, perante um acervo pessoal de fanzines que não parava de crescer em casa, se lembrou de propor à escola, que também foi sua, a criação de uma biblioteca destas publicações, que se distinguem por serem originais, independentes e alternativas, ganhando, ao longo do tempo, um importante es- paço na intervenção cultural e na partilha de experiências em torno de assuntos  marginais à cultura dominante. Motivados pela divulgação entusiasta de temas como ficção científica, música, literatura ou banda desenhada, grande número de publicações têm surgido em todo o mundo e em Aveiro não foi exceção, como é o caso recente (2019) da Ultra Violenta. Lançada por Miguel Correia, já conta com 24 edições e mais de 150 artistas de todos os continentes a contribuirem com trabalhos seus, alusivos ao tema proposto pelo editor. “Comer” foi o primeiro a ser abordado, e desde então já se “fanzinou”sobre o sonho, pandemia, veneno, vício, reflexo, mistério…A última, lançada em novembro, resultou de um “workshop”que o designer dinamizou com alunos da Escola Secundária José Estêvão, onde existe o curso de Artes Visuais.«Correu tão bem que resolvi aproveitar os seus trabalhos e fazer um fanzine», explicou ao Diário de Aveiro, num dia especialmente feliz, por formalizar a Fanzineteca. «Será um espaço aberto à escola, mas também à comunidade em geral, onde podem consultar e fotografar ou fotocopiar, para já, 460 fanzines, revistas e jornais de publicação independente portugueses, de diferentes épocas e temas», avançou.

Forma de expressão livre

Um acervo pessoal que passa a estar disponível (apenas) para consulta, com o “extra” de ficar referenciado, também, na Rede de Bibliotecas da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, «o que significa que uma pessoa em Águeda, Estarreja ou Vagos pode consultar a Fanzineteca» e ficar a conhecer estes conteúdos alternativos que são, a seu ver, muito relevantes a nível cultural e artístico e em áreas diversas.

Associado a este espaço, Miguel Correia tenciona, ainda, promover encontros, exposições e “workshops” relacionados com os fanzines, mas propõe-se também a criar uma rede nacional de Fanzinetecas. «Existem cinco, de norte a sul do país, e gostava de promover a troca de exemplares e a promoção conjunta de iniciativas», tendo já preparadas encomendas para cada uma das cinco congéneres com diversos exemplares de fanzines repetidos, como forma de dar início a um intercâmbio que pretende «longínquo e dinâmico».

Fanzine resulta da junção de duas palavras: fã (de adepto) e zine (de magazine) e aplica-se a publicações não comerciais “underground” e que servem como veículo de divulgação, troca de ideias e afirmação de opiniões, e é isso mesmo que Miguel Correia espera levar para dentro do espaço escolar e público: «vontade de criar e pensar».

Em paralelo admite uma especial satisfação pessoal em retribuir à escola o que ela lhe deu ao nível da formação e crescimento pessoal, e, quem sabe, os fanzines não atraiam, à biblioteca, alunos que, de outra forma, poucas vezes lá entrariam. A escola também é isto, aproximar-se da comunidade e convidá-la a “entrar”, tendo sido esta uma proposta «muito bem acolhida pela direção, que lhe reconheceu de imediato muitas vantagens e pontos de interesse», refere o designer.

A inauguração da Fanzineteca está prevista para abril, altura em que o processo de catalogação deverá estar concluído.”

in: Diário de Aveiro 20 de Janeiro 2023